No Balcão o empresário Tanildo Souza exibe 18 produtos feitos a base de guaraná. Todos são feitos na pequena fábrica que ele montou na cidade de Taperoá, no baixo sul do estado. O trabalho começou há três anos. Aproveitando a grande produção da fruta na região, ele conseguiu um financiamento e comprou o maquinário. Hoje Tanildo emprega dez pessoas e vende as bebidas que fabrica até para outros estados.

Feliz com o resultado dos negócios, o empresário conta que fazia tudo de forma artesanal nos fundos de casa, mas as venda cresceram e ele resolveu industrializar o processo. “Hoje o guaraná da Bahia deixou de ser promessa, temos a maior safra do mundo e só precisamos que o produto seja mais conhecido para continuar crescendo”, explica.

Tornar a fruta e seus subprodutos mais conhecidos pelo consumidor baiano é um dos desafios para quem vive deste tipo de lavoura. A preocupação é da Câmara Setorial do Guaraná, entidade formada por agricultores e empresários do baixo sul do Estado, que está elaborando um plano estratégico para esta cadeia produtiva. O objetivo é apresentar um diagnóstico e dar sugestões de políticas públicas para potencializar a produção.

Conferência 
Quando estiver pronto, o documento vai integrar o Planejamento Estratégico da Agropecuária na Bahia, trabalho que pretende pensar o crescimento sustentável das 20 principais lavouras baianas a médio e longo prazo. Segundo o secretário da Agricultura, Eduardo Salles, a discussão final vai acontecer durante a Conferência Estadual das Câmaras Setoriais, marcada pra agosto em Salvador.

“Queremos pensar a agricultura baiana para o futuro, não ficar apenas controlando e combatendo crises. Para isso convocamos todos os envolvidos, produtores, sindicatos, associações, empresários, queremos um plano pensado por todos. A idéia é que os atores envolvidos no processo possam colaborar na condução das políticas públicas”, explica Salles.

Além de divulgação do guaraná, os produtores querem a inclusão dos pequenos agricultores em programas de garantia da safra e criação de classificação de qualidade. “Queremos deixar pronto um caminho, um documento apontando que ações devem ser tomadas para que a agropecuária baiana não pare de crescer e incluir os pequenos”, concluiu o secretário Eduardo Salles.

Planejamento para os próximos 20 anos
No baixo sul a produção do guaraná ganhou força na última década. A safra anual atingiu mais de duas mil toneladas e faz da Bahia o maior produtor da fruta no mundo. O desafio agora é dar sustentabilidade a produção e garantir o futuro do guaraná no estado. Para isso agricultores, empresários, comerciantes e o poder público formaram a Câmara Setorial do Guaraná. Um fórum permanente de discussão com a finalidade de identificar os desafios e planejar a cadeia produtiva do produto que é a base de bebidas e refrigerantes.

“A câmara é uma instância representativa do setor junto ao poder público, apresentando sugestões e cobrando ações de melhoria. Estamos fazendo isso com as 20 principais culturas do estado e no fim do ano teremos um Plano Estratégico da Agropecuária Baiana para os próximos 20 anos,” disse o secretário da Agricultura, Eduardo Salles, que participou, na segunda-feira (19) do encontro realizado pela Câmara Setorial do Guaraná no município de Taperoá.

Mobilização
Para o representante do Sindicato dos Produtores Rurais do município, Daniel Lima, as câmaras estão criando um clima de mobilização e empenho de todos os envolvidos com a agropecuária baiana. “É motivante ver que há uma preocupação do poder público e que juntos podemos escolher que ações políticas precisamos para desenvolver o guaraná”.

Já o empresário Tanildo Souza acredita que a discussão vai ajudar a dar sustentabilidade já que, além dos agricultores, os empresários e comerciantes também participam da discussão. “São os empresários que compram dos agricultores para beneficiar; os comerciantes compram da gente para vender e a cadeia assim se renova. Aqui pensamos em todas essas etapas, o que dá força a produção do guaraná na Bahia”.

A Bahia é o estado com o quinto maior território do país. São 564 mil quilômetros quadrados de área, grande parte com solo e clima favoráveis a agropecuária. Aproveitando essas condições, algumas regiões são destaque nacional de produção. O oeste com a soja e o algodão, o sudoeste com o café, o norte com as frutas e o extremo sul com o Eucalipto, são alguns exemplos.

Nos últimos anos outras regiões também passaram a investir na agricultura e obtiveram bons resultados. No baixo sul o destaque é a produção de guaraná, a safra anual atingiu mais de duas mil toneladas e faz da Bahia o maior produtor da fruta no mundo. No estado, o produto é cultivado na região da Costa do Dendê, com aproximadamente 6,5 mil hectares de área plantada, empregando mais de 3,5 mil produtores familiares distribuídos em pequenas propriedades com produção superior a três mil toneladas por ano.

“A luta do guaraná é constante para o nosso povo. O baixo sul possui um grande potencial agrícola e pecuário. O primeiro passo já foi dado com a implantação da Câmara Setorial do Guaraná”, afirmou Antonio Fernando Brito, prefeito de Taperoá, cujo município é o maior produtor de guaraná do mundo. Até o final do ano, a câmara vai elaborar um documento com todas as sugestões recolhidas em reuniões realizadas durante o ano. “Queremos pensar o futuro não ficar apenas acalmando crise”, disse o secretário.