A partir da próxima semana, a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) abre inscrições para o curso ‘Fé na Prevenção’, que vem capacitando lideranças religiosas e de movimentos afins atuantes na prevenção e acolhimento de brasileiros com problemas decorrentes do uso de álcool e outras drogas. Na Bahia, o alvo serão líderes religiosos dos municípios de Salvador, Camaçari, Lauro de Freitas e Simões Filho. que integram o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci).

Na quarta-feira (11), a secretária da Senad, Paulina Duarte, apresentou o curso para representantes de instituições dos quatro municípios como forma de incentivá-los a se inscrever e a participar da capacitação. O curso é uma das ações do Plano Operativo Tripartite do Programa Federal ‘Ações Integradas na Prevenção ao Uso de Drogas e Violência’ – coordenado, na Bahia, pela Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (SJCDH).

Essa é a segunda edição do curso. A primeira foi realizada no ano passado e contou com a participação de aproximadamente cinco mil lideranças de diferentes doutrinas e movimentos afins. A expectativa é que mais cinco mil pessoas sejam capacitadas nesta edição. As aulas terão duração de dois meses e ministradas a distância. Tutores ficarão à disposição para esclarecer dúvidas, estimular a participação dos alunos e controlar o envio das avaliações.

Para que a ação se concretize, os governos federal e estadual contam com a colaboração das prefeituras municipais. Em Salvador, três instituições religiosas foram destacadas – Desafio Jovem Salvador, Anap – Instituto Bem Viver e a Casa de Recuperação Ebenezer.

Em Camaçari, além da mobilização, a prefeitura vai disponibilizar espaços para que as pessoas se inscrevam e possam participar do curso. Tanto em Lauro de Freitas como em Simões Filho, as prefeituras também se comprometeram em estimular a participação dos lideres.

A preocupação com a prevenção e o combate ao uso de drogas é mundial. Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) apontou que, em 2009, entre 172 milhões e 250 milhões de pessoas fizeram uso de substâncias ilícitas. Desse quantitativo, 38 milhões são dependentes. No Brasil, estima-se que 5% da população façam uso de alguma substância ilícita. Segundo o Ministério da Saúde, atualmente, aproximadamente 600 mil brasileiros são dependentes do crack.

De acordo com Paulina Duarte, as políticas que vêm sendo adotadas pelo governo federal devem atingir diversos municípios brasileiros. Ela afirmou que as instituições religiosas são mais um instrumento de combate ao uso de drogas, “já colaboram muito com o governo na prevenção e no tratamento e podem ampliar muito mais a ajuda a partir do momento em que adquirirem conhecimentos técnicos e científicos, que vão auxiliar na abordagem dos usuários e seus familiares”.

A explicação de Paulina se encaixa com os perfis de várias instituições religiosas que trabalham direta ou indiretamente com usuários e familiares. É muito comum pessoas próximas aos usuários procurarem as instituições em busca de apoio ao invés de ir atrás de serviços de saúde especializados. O projeto do governo é munir essas instituições de conhecimentos específicos e atualizados sobre drogas porque elas possuem uma grande inserção na sociedade.

Laços sociais 
Na opinião do psiquiatra e coordenador do Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas (Cetad), da Ufba, Antônio Nery Alves Filho, o fato dos lideres religiosos cuidarem do espiritual sem descuidar do físico pode ser um fator determinante no combate ao uso de drogas. No entanto, o psiquiatra alerta que, mais do que um problema, as drogas são resultado de um processo de falência dos laços sociais. Ele aposta no resgate desses laços como forma de amenizar vários problemas que hoje atingem a sociedade.

“Precisamos combater o uso de drogas, mas não devemos colocar esse problema em um pedestal que não podemos alcançar. É preciso pensar uma forma de restaurar a dignidade humana porque as relações sociais estão se perdendo. Hoje se mata por nada, machuca-se os outros por nada, filhos não respeitam mais os pais e os pais têm medo dos filhos. Enquanto esses problemas não forem resolvidos, não vamos melhorar”, afirma o psiquiatra.